Entomologistas Brasileiros

Entomologistas Brasileiros

Victor Py-Daniel

Biografia

Curioso desde criança, Py-Daniel aos seis, sete anos já ‘descrevia bichos e ciclos biológicos’, e direcionou seus estudos para a natureza viva. Graduou-se em Ciências Biológicas na Universidade de Brasília (UnB/ 1976), onde fez estágio no laboratório de Parasitologia do Dr Lobato Paraense, um expert da parasitologia tropical. Na sua caminhada conheceu outros grandes nomes da Zoologia, a exemplo de Walter Kempf (entomólogo), estruturou o curso e o laboratório de Zoologia da Universidade da Paraíba, onde passou dois anos. Em 1978, veio definitivamente para a Amazônia, “onde sempre quis viver e trabalhar”, segundo a pesquisadora Lucia Rapp Py-Daniel.¹

O Victor Py-Daniel nasceu no dia 8 de dezembro de 1951 em Rio Grande/RS, e faleceu no dia 22 de junho de 2021, em Brasília/DF.  Ele iria completar 70 anos.¹

Sempre quis fazer Biologia.  Formou-se na UnB em 1976, em Ciências Biológicas/Biologia Animal.  Na UnB começou a estagiar no Laboratório de Parasitologia, do Dr. Lobato Paraense, um monstro na Parasitologia tropical.  Depois, foi para o Laboratório de Zoologia na UnB, onde conheceu outros grandes nomes da Zoologia: Pierre Louis Dekeyser (herpetólogo e ornitólogo), Walter Kempf (entomólogo), Domiciano Dias (entomólogo) e foi contemporâneo na UnB do Spartaco Filho (Ufam), Bráulio Dias (MMA/UnB), dentre outros. Foi realizando saídas de campo na UnB que o Victor se encantou com o cerrado, de uma diversidade inesperada e sempre teve vontade de fazer do cerrado sua morada definitiva.¹

Assim que se graduou pela UnB foi contratado pela Universidade Federal da Paraíba, para montar o Laboratório de Zoologia e o curso em Zoologia. Passou dois anos lá e veio para a Amazônia, onde sempre quis conhecer e trabalhar.¹

Veio definitivamente para a Amazônia em 1978, a convite do Dr. Nunes de Mello (entomólogo) e trabalhou com Epidemiologia e Etnoepidemiologia por muitos anos.  Ingressou na Pós-graduação do Inpa direto no Doutorado, nem precisou fazer o Mestrado. Doutorou-se em 1990, e sua tese foi Revisão da Tribo Prosimuliini (Diptera, Culicomorpha) nas regiões Zoogeográficas Neartica e Neotropical (larvas e pupas), sendo orientado pelo Dr. Paulo Friedrich Buhrnheim. Trabalhou com os Yanomami durante anos e com os simulídeos (Diptera), vetores da Oncocercose e várias filarioses tropicais. Trabalhou também com outros grupos indígenas, Kamayurá, Katukina das áreas do Japurá e Javari. No Inpa fundou o Laboratório de Etnoecologia e Etnoentomologia (LETEP/Cosas).¹

Orientou um grande número de estudantes do Inpa e da Ufam, sendo que vários dos seus estudantes continuam a sua linha de trabalho em diferentes instituições. O Victor se embrenhou em muitas expedições arriscadas, matas desconhecidas, e sempre teve como companheiros um pessoal técnico do Inpa de alta qualidade, Ulysses Barbosa, João Vidal, Elias Bindá, Luiz Aquino, o qual viajou muitas vezes com ele, Eliseu Júnior, Orlando Santos e Wanilze Barros.  Por conta de suas expedições, o Victor contraiu malária diversas vezes, hepatites e arboviroses distintas. Foi o percursor no Programa de Eliminação da Oncocercose no Brasil.¹

O Victor se aposentou em 2010 e veio para Brasília, para ficar mais perto das filhas e do seu querido cerrado.  Foi morar na borda da Chapada dos Veadeiros, em São João da Aliança, mas manteve um contato na UnB onde continuou ministrando disciplinas e orientando alunos até antes da pandemia.¹

Para Py-Daniel, somos as únicas criaturas na face da terra capazes de mudar nossa biologia pelo que pensamos e sentimos.¹

 A antropóloga e linguista Ana Carla dos Santos Bruno, 49 anos, pesquisadora do Inpa há 17 anos, começou a trabalhar com Py-Daniel no Programa Amazonas de Apoio à Pesquisa em Políticas Públicas em Áreas Estratégicas. Era um programa realizado em parceria com a Fundação Estadual dos Povos Indígenas (FEPI), com o aporte financeiro da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado do Amazonas (Fapeam). Ana Carla estava envolvida com as questões de educação, língua indígena e cultura, e relata como via a forma como o pesquisador Py-Daniel realizava seu trabalho científico com os povos indígenas.² 

“O Py-Daniel foi o grande articulador desse convênio. Ele já trabalhava com os Yanomami e diversas etnias indígenas. Eu observei a soma de compromisso e ética que ele tinha. Além da questão científica, ele tinha um compromisso com a questão indígena. Para ele, não era somente fazer pesquisa por pesquisa, mas atender às demandas e dar atenção à questão da saúde indígena. Ele estava muito atento para a questão da forma de viver dos índios, do respeito à língua, à cultura, e à forma como eles viviam. Isso me deixou admirada com o trabalho dele, observando como ele dialogava com os indígenas e então nos tornamos aliados nessa problemática”.²   

“Ele tinha muito compromisso com a questão e com a vida indígena. Tinha muito respeito. Eu acho que não existe ciência sem compromisso, e Py-Daniel mostrou o respeito aos grupos étnicos com os quais ele trabalhava. Isso fazia a ciência ser muito mais rica, pelo respeito que ele tinha pelos outros. Ele tinha muito disso. Quando ele se aposentou, eu pensei que tinha perdido um aliado; mas mesmo distante, ele mantinha o contato comigo e com a dra. Noêmia Ishikawa, que ficamos no Inpa, dando continuidade ao trabalho que ele fazia, contribuindo com as nossas áreas de atuação”.² 

Refletindo sobre o que vivenciou na relação com indígenas nas pesquisas científicas e o que aconteceu no dia 22 de junho, em Brasília, quando policiais atacaram indígenas – que estavam se manifestando pacificamente contra o Projeto de Lei 490, que altera as regras de demarcação dos territórios indígenas –, Ana Carla diz: “É desolador como os direitos territoriais e sociais dos indígenas estão sendo violados, de forma inimaginável no momento presente. Mas mesmo num cenário de calamidade pública, os indígenas continuam resistindo porque território é vida”.²

Area de Atuação:

Oncocercose, Simuliidae, Diptera
Victor Py-Daniel

Nós deixou em: 22/06/2021