Messias Carrera, filho de José Carrera e Carmen Cassanha Carrera, nasceu em São Paulo,
SP, em 30 de maio de 1907, vindo a falecer na mesma cidade em 2 de dezembro de
1994, aos 87 anos de idade.
Foi funcionário dos Correios e Telégrafos durante vários anos. Na
década de 30 resolveu estagiar no Museu Paulista, sob a orientação do
entomologista John Lane. Em 1939 ingressou na Seção de Ciências Naturais da
antiga Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras da Universidade de São Paulo,
licenciando-se apenas em Zoologia de Vertebrados, Zoologia de Invertebrados e
Fisiologia Geral e Animal, em 1941. Em 1955, no governo Jânio Quadros, houve
ameaça de rebaixamento de cargo para quem não possuísse diploma de curso
superior. No ano seguinte, Messias Carrera voltou à Faculdade de Filosofia e se
inscreveu nas disciplinas de Citologia e Morfologia Vegetal. Foi quando nos
conhecemos como colegas e nos tornamos amigos, tendo como interesse comum a
divulgação científica e o folclore dos animais. Mantivemos correspondência
durante 38 anos ininterruptos, sempre trocando idéias sobre divulgação
científica e livros antigos sobre zoologia.
Em 1954, Messias fez o curso de Especialização em Entomologia Médica,
na Faculdade de Higiene e Saúde Pública da USP. De 1942 a 1951 foi professor de
zoologia da terceira série do curso científico dos ginásios Pan-Americano,
Anglo-Latino e Bandeirantes.
Ingressou como Assistente do então Departamento de Zoologia da
Secretaria da Agricultura do Estado de São Paulo em 1943, deixando de ser
funcionário dos Correios e passando a se dedicar inteiramente à sistemática dos
Diptera, especialmente dos Asilidae. Em 1957, foi integrado na carreira de
Biologista e designado para responder pela Seção de Insetos. Foi
biologista-chefe dessa seção em 1962 e se aposentou em 1963.
Os dípteros que escolheu para especializar-se são conhecidos em inglês
como "moscas assassinas"; com esse título publicou seu primeiro artigo de
divulgação em 1939, na revista Chácaras e Quintais 60 (5): 620-623. Ali dizia
que os Asilidae "São insetos exclusivamente predadores que apresentam uma
voracidade extraordinária. Precipitando-se sobre a vítima em momento oportuno,
cravam-lhe o forte estilete e se acha embainhado na tromba e vão depois,
pacificamente pousados sobre uma ramagem mais elevada, sugar as substâncias
internas do incauto que lhe cai nas garras. São verdadeiros salteadores de
estradas no mundo dos insetos. Moscas assassinas é o nome empregado por Curran
para designar estes dípteros de hábitos tão 'Ferozes'". Escreveu muitos outros
artigos de divulgação nessa revista e em outros periódicos como Cultos, Boletim
de Agricultura (São Paulo), Mundo Agrícola, Almanaque Agrícola, Chácaras e
Quintais e Fátima Paulista, e nos jornais Correio Paulistano e Folha de São
Paulo.
Em 1963 iniciou a série "Histórias de Insetos", publicada semanalmente
no matutino Folha de São Paulo (dezembro de 1963 a setembro de 1965), num total
de 91 artigos. Apreciador de biografias, escreveu várias, entre elas as de
Amadeu Amidei Barbiellini (1955), o fundador da revista Chácaras e Quintais,
Adolfo Lutz (1956), Rodolfo von Ihering (1957), Pierre André Latreille (1958),
Ladislau Martin Aczel (1962) e Renato R. Corrêa (1987). Redigiu 24 referatas de
livros (1950-1982) e respostas às consultas dos eleitores de Chácaras e
Quintais, além dos verbetes 'cigarras', 'díptero', 'entomologia' e 'gafanhoto'
para a Enciclopédia Mirador Internacional (1972) e mais os verbetes 'insetos',
'libélula', 'mosca', 'mosquito' e 'percevejo' para a mesma publicação (1973).
Escreveu quatro reportagens na Folha da Manhã (1953).
Quando professor do ensino secundário, escreveu sete apostilas sobre
classificação e nomenclatura zoológica (1947), espongiários, celenterados,
protozoários, dípteros em geral, tabanídeos e cloropídeos (1955).
Foi autor de 68 artigos científicos (1940-1966), 40 dos quais sobre
Asilidae. A lista de suas publicações dipterológicas se encontra ao final deste
artigo [vide
Revta bras. Ent. 39 (1), 1995].
Suas atividades também se estenderam ao campo da tradução; traduziu
para a Companhia Melhoramentos de São Paulo as seguintes obras: G. Fossetti -
Enciclopédia dos Animais (63 pp., 1969); G.B. Stevenson - Mamíferos (48 pp.,
1972); G.B Stevenson - Aves (48 pp., 1972); G.S. Fichter - Insetos (48 pp.,
1972); G.B. Biran - Gatos (48 pp., 1972); G.F. Fichter - Cobras (48 pp., 1972);
J.A. Hathaway - Aviões e Pilotos famosos (48 pp., 1972); G.B. Stevenson - Navios
(48 pp., 1972); Sali Money - Reino Animal (158 pp., 400 figs., 1977).
Em 1956, Messias publicou o livro Entomologia para você (Editora
Chácaras e Quintais, São Paulo, 118 pp., 10 figs.), que foi muito bem aceito
pelos alunos de diversos cursos universitários. A segunda edição saiu pela
Editora da Universidade de São Paulo em 1963 (360 pp., 244 flgs.). A terceira
pela Edart Livraria Editora Ltda., em 1967 (182 pp., 244 figs., 9 ests.). A
quarta pela mesma Edart, em 1973 (185 pp., 256 figs.); a quinta pela Editora
Nobel em 1980 (185 pp., 256 figs.), que também editou a sexta e a sétima, esta
última em 1979. Entomologia para você vem sendo editado periodicamente pela
Nobel.
Seu segundo livro, Insetos, Lendas e Histórias, foi publicado pela
Thesaurus de Brasília, D.F., em 1991 (137 pp., il.), e nele se encontram
curiosidades muito interessantes sobre esses animais.
Seu terceiro e último livro, Insetos de interesse médico e
veterinário, editado pela Editora da Universidade Federal do Paraná, em
co-edição com o CNPq, em 1991 (228 pp., il.), foi dedicado à memória de John
Lane - "a quem devi, minha iniciação ao estudo dos insetos". Há uma introdução
histórica, um estudo sistemático dos insetos e das doenças e prejuízos causados
ao homem e aos animais.
Em 1988 candidatou-se ao Prêmio José Reis de Divulgação Científica
correspondente a 1987 e foi contemplado, com muita justiça, recebendo diploma,
medalha e prêmio em espécie, no dia 13 de julho de 1988, em cerimônia realizada
na faculdade de Arquitetura e Urbanismo da USP, por ocasião da reunião Anual da
Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência.
Mesmo com mais de 80 anos de idade , continuou produzindo artigos de
divulgação, tais como "Reparos à zoologia dos dicionários - moluscos'
(Informativo Soc. bras. malc. 105: 32-14, 1991); 'Reparos à zoologia dos
dicionários. 1. Insetos' (Revta bras. Ent. 35 (2) : 469-483, 1991); 'Digressão
sobre os nomes da barata' (Revta bras. Ent. 36 (2): 483-485, 1992); 'Reparos à
zoologia dos dicionários, II. Insetos' (Revta bras. Ent. 36 (3) : 703-706,
1991); 'Entomofagia humana' (Revta bras. Ent. 37 (1): 193-198, 1993); 'A
entomologia na História Natural de Plínio'(Revta bras. Ent. 37 (2): 387-396,
1993); 'As libélulas e seus mistérios' (Revta bras. Ent. 37 (3): 639-640, 1993);
'Reparos à zoologia dos dicionários. III. Aves' (Revta bras. Zool. 10 (2):
367-370, 1993); 'Reparos à zoologia dos dicionários. IV. (Revta bras. Zool. 10
(3): 531-534, 1993); 'O gigantismo nos insetos' (Revta bras. Ent. 38 (1)
:152-157, 1994) e 'Feromônios' (Revta bras. Ent. 38 (2): 507-508, 1994). Há
outros que deverão ser publicados oportunamente.
Messias Carrera foi o orientador do então estagiário Nelson Papavero,
em 1962 e 1963, que se especializou em dípteros.
Messias foi sócio-fundador da Sociedade Brasileira de Entomologia e da
Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência e membro de outras entidades
similares. Foi eleito Sócio Honorário da Sociedade Brasileira de Zoologia e por
esta homenageado em sessão solene, julho último [1994], durante a realização do
Congresso Brasileiro de Zoologia no Rio de Janeiro.
Seu nome está perpetuado nos seguintes patronímicos, na Ordem Diptera:
1)
Hexatoma (Erioptera) carrerai Alexander, 1942 (Tipulidae); 2)
Gomomyia (Lipophleps) carrerai Alexander, 1943 (Tipulidae); 3)
Leptotarsus (Longurio) carreranus (Alexander, 1945) (Tipulidae); 4)
Ozodicera (Ozodicera) carrerella Alexander, 1956 (Tipulidae); 5)
Psychodopygus carrerai (Barreto, 1946) (Psychodidae); 6)
Palpomyia
carrerai (Lane, 1948) (Ceratopogonidae); 7)
Stenoxenus carrerai Lane,
1956 (Ceratopogonidae); 8)
Carreraia Corrêa, 1947 (Anisopodidae); 9)
Mycomya carrerai Coher, 1950 (Mycetophilidae); 10)
Mycetophila (Abmyceta)
carrerai Lane, 1958 (Mycetophilidae); 11)
Messiasia d'Andretta, 1951
(Mydidae); 12)
Messiasia carrerai d'Andretta, 1951 (Mydidae); 13)
Lycosimyia carrerai d'Andretta, 1951 (Asilidae); 14)
Doryclus carrerai
Bromley, 1958 (Asilidae); 15)
Ctenodontina carrerai (Hull, 1958) (Asilidae);
16)
Carreraia Cole & Pritchard, 1964 (Asilidae; pré-ocupado por
Carreraia Corrêa, 1947); 17)
Carreraomyia Cole, 1969 (Asilidae; nom.
nov. para
Carreraia Cole & Pritchard); 18)
Neodiogmites carrerai
Artigas
& Papavero, 1988 (Asilidae); 19)
Rhamphomyia carrerai
Smith, 1962 (Empididae); 20)
Pipunculus (Eudorylas) carrerai (Hardy,
1950) (Pipunculidae); 21)
Microdon carrerai (Papavero, 1962) (Syrphidae);
22)
Carreramyia Doesburg, 1966 (Syrphidae; atualmente sinônimo júnior de
Ubristes Walker); 23)
Glyphidops carrerai Aczél, 1961 (Neriidae);
24)
Carrerapyrgota Aczél, 1956 (Pyrgotidae); 25)
Tomoplagia carrerai
Aczél, 1955 (Tephritidae); 26)
Dimecoenia carrerai Oliveira, 1957 (Ephydridae);
27)
Clastopteromyia carrerai Frota-pessoa, 1947 (Drosophilidae); 28)
Somatia carrerai Papavero, 1964 (Somatiidae); 29)
Pegomyia carrerai
Albuquerque, 1959 (Anthomyiidae); 30)
Archytas carrerai Guimarães, 1961 (Tachinidae);
31)
Ormia carrerai Tavares, 1965 (Tachinidae); 32)
Itacuphocera
carretai Guimarães, 1964 (Tachinidae).
Em 02 de dezembro de 1994, perdeu a ciência um dos expoentes na
sistemática de dípteros e grande divulgador da ciência.