Sebastião José de Oliveira nasceu no bairro de Cascadura,
na cidade do Rio de Janeiro, em 3 de novembro de 1918. Filho de Onofre José de
Oliveira e Jesuína da Fonseca Oliveira sempre se orgulhou de sua ascendência
africana e cresceu ouvindo as histórias sobre seus antepassados contadas por
seus pais, mas sobretudo por sua avó, materna Bernardina. Freqüentou o Curso
Secundário ( atual Ensino Médio) no Ginásio Arte e Instrução, também no bairro
de Cascadura. Em 1941 diplomou-se em Medicina Veterinária pela Escola Nacional
de Veterinária, sedes da Praia Vermelha e Maracanã ( atual Universidade Federal
Rural do Rio de Janeiro).
Foi discípulo de Hugo de Souza
Lopes, que substituiu Lauro Travassos na cadeira de Zoologia Médica e
Parasitologia, na Escola Nacional de Veterinária e, através do qual chegou ao
Instituto Oswaldo Cruz, em 1939, como estagiário sem remuneração da "Secção de
Helmintologia", chefiada por Lauro Pereira Travassos. Esta porém não era a
primeira vez que Sebastião José de Oliveira atravessava os portões de
Manguinhos. Anos antes, já havia tido esta experiência, quando por ser
aficcionado por aviação, esteve no Museu de Anatomia Patológica, no 3º andar do
Castelo Mourisco, para ver a perna do aviador italiano Del Plete, que havia
morrido quando o avião Savoia-Marchetti, que pilotova, caiu na Baía de
Guanabara, na altura da Ilha do Governador, durante um vôo de demonstração. Para
tal feito, teve a companhia de seu primo Edgard do Espírito Santo, que assim
como outros dois de seus primos, João do Espírito Santo e Francisco Gomes, o
Chico Trombone, eram serventes no Instituto Oswaldo Cruz.
Na antiga "Secção de
Helmintologia", além deLauro Pereira
Travasssos, pode trabalhar ao lado de pesquisadores como Herman Lent,
João Ferreira Teixeira de Freitas, Domingos Arthur Machado Filho, Manoel
Cavalcanti Proença, Romualdo Ferreira D'Almeida, Hugo de Souza Lopes e, ainda,
com o fotógrafo e técnico Mário Ventel, técnicos Antonio Nobre e José de
Carvalho e outros auxiliares.
Inicialmente.Hugo de Souza Lopes o orientou para o
estudo de moscas da família Cruziidae (Acaliptrata). O estagiário Sebastião José
de Oliveira já trazia consigo uma paixão: a família Chironomidae, díptero pouco
estudado na época, e que trazia como lembrança de sua infância, quando brincava
com os "bichinhos vermelhos", no quintal de sua casa e, que anos mais tarde,
descobriu tratar-se das larvas de Chironomidae. Mas, como bom estagiário,
estudou não só a família Cruziidae, mas também outras, o que fez com que, ainda
em 1941 publicasse seu primeiro trabalho "Sobre Ophyra aenescens (Wiedemann,
1830) ( Diptera, Anthomyidae)". Feito isto, Souza Lopes quis encaminhá-lo para
estudar taxonomia e biologia de Culicidae (Insecta: Diptera) com Gustavo Mendes
de Oliveira Castro, o que não se concretizou, porém, seu autodidatismo acabou
por fazê-lo encontrar-se com John Lane, do Instituto de Higiene de São Paulo e
Nelson Cerqueira, que trabalhavam para a Fundação Rockefeller.
Em 1940,Neiva,Travassos eSouza Lopes pleitearam para ele uma vaga como
entomologista no Serviço de Malária da Baixada Fluminense, cujo Laboratório de
Entomologia era chefiado por Gilberto de Freitas. Neste laboratório conheceu
Pedro Wygozinski, do qual se tornou amigo e com o qual veio a publicar
posteriormente.
Em
1942, por indicação também de Neiva,Travassos eSouza Lopes, foi convidado por César Pinto para integrar o Serviço de
Doenças Parasitárias, do Departamento Nacional de Estradas e Rodagem, que estava
construindo a primeira rodovia Rio-Bahia com sede na cidade de Figueira do Rio
Doce, que no ano seguinte teve seu nome mudado para Governador Valadares. Dias
antes de sua partida para Figueira do Rio Doce, pode ter uma experiência
inesquecível, que foi ter sua armadilha de Shannon fabricada porLauro Travassos.
Retornou no final de 1943 e em
1944 foi trabalhar na Companhia de Anelinas e Produtos Químicos Geigy do Brasil
Sociedade Anônima, fazendo experiências com DDT, sobre as quais publicou com
Herman Lent e Isaac Moutsaché.
Durante todo este tempo, permaneceu como estagiário sem
remuneração do Instituto Oswaldo Cruz, até ser contrato. Grande parte do acervo
da Coleção Entomológica do Instituto Oswaldo Cruz foi constituído a partir das
excursões realizadas por Lauro Travassos, que inicialmente foram incentivadas e
apoiadas pelo Major Moacir Alvarenga. Das oito excursões realizadas, Sebastião
José de Oliveira participou de quatro e, mencionando-se apenas a primeira
excursão, foram coletados 200 mil exemplares de Coleoptera. É muito comum
encontrar exemplares do acervo da Coleção Entomológica com rótulos como
"Travassos/Oliveira/Adão" ou "Travassos/Oliveira/Pearson". "Adão", era Manoel
Adão, assistente de Isaac Moutsaché e "Pearson"
Autor de 95 trabalhos
envolvendo as áreas científicas e de divulgação, bem como comentários sobre
livros de ciência e de contribuições a trabalhos de outros pesquisadores,
Sebastião é pioneiro nos estudos de Chironomidae.
Responsável pela descrição de vários insetos novos
para a ciência. Dentre estes, os gêneros Lopescladius, Brasixenos,
Corytibacladius e Laurotanypus e, 70 espécies novas. Um gênero
Oliveiriella e 10 espécies de insetos, descritos por
outros pesquisadores, receberam o nome oliveirai, em homenagem à sua
contribuição à ciência.
Agraciado pelo Governo do
Estado, em 1985, com o Prêmio Estácio de Sá (Ciência) e pela Associação Nacional
de Defesa dos Direitos do Negro, 1988, com o Prêmio Zumbi e, em 1995, recebeu a
Medalha Tiradentes da Assembléia Legislativa do Estado do Rio de Janeiro.
Eleito em 1993 para Academia
Brasileira de Medicina Veterinária, para a cadeira que tem como Patrono o Prof.Hugo de Souza Lopes.
Em 1998, com 80 anos, defendeu
a tese "Contribuição ao conhecimento dos Chironomidae marinhos (Insecta,
Diptera) do litoral brasileiro", com a qual obteve o grau de Doutor em Ciências
(Entomologia) no Curso de Pós-Graduação em Biologia Parasitária do Instituto
Oswaldo Cruz.
Faleceu em 16 de abril de
2005, na cidade do Rio de Janeiro, Sebastião José de Oliveira, entomólogo e
professor do Instituto Oswaldo Cruz. Foram 65 anos dedicados à ciência e ao
ensino. Foi o primeiro cientista negro do Instituto Oswaldo Cruz, onde iniciou
suas atividades em 1939, como discípulo de Hugo de Souza Lopes e formou-se em
Medicina Veterinária, em 1941, na Escola Nacional de Veterinária (atual
Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro). Além do seu vasto conhecimento
entomológico, Sebastião José de Oliveira foi especialista na ordem Diptera sobre
a qual publicou cerca de 100 artigos científicos principalmente sobre as
famílias Chironomidae, Culicidae, Ephydridae e na ordem Strepsiptera em
colaboração com Marcos Kogan.